(Texto escrito no dia 24 de setembro de 2011)
Hoje, revivo um pensamento que mora em mim há algum tempo. Ele, entretanto, transformou-se em sonho. Eu, na verdade, não gosto de sonhos, desses que nos invadem durante a noite, sem a nossa permissão. Bons ou ruins, são desagradáveis. Se bons, desparecem quando voltamos à consciência. Se ruins, ressoam em nosso subconsciente, causando mal-estar. Bem, o tal pensamento criou forma. De repente, eu revivi alguns medos e angústias, mas tive uma surpresa. Agora, contudo, via-me pelo avesso. Os meus pensamentos diferiam dos de antigamente. Os meus atos não eram como os de antes. Os meus olhos, as minhas mãos, a minha boca já não eram os mesmos de ontem. O Eu, de outrora, não estava mais ali, naquelas cenas. E o mais absurdo, aterrorizante e, presumidamente fascinante, é que minha justificada inconsciência analisava-me criticamente. E mais, fazia-o apaixonadamente; ele, o (in) consciente admirou o pensamento de minha alma.
Em seu novo formato, meu insistente pensamento se encontrou com uma vontade não menos obstinada, refém de um sentimento que de tão antigo, já não se lembra nem do próprio nome de batismo. Eles, o tal pensamento e a tal vontade decidiram no tal sonho realizar um desejo de ambos. E resolveram fugir para bem longe do cárcere onde eles mesmos se colocaram um dia. A inconsciência celebrou esse instante. Ela os viu fazer as malas rumo ao absoluto.
O despertador soaria apenas às sete e quarenta e cinco. A aula de literatura seria às nove e meia. Seria tempo suficiente para reviver a rotina diária e chegar a tempo, à escola. Mas, inexplicavelmente, ele tocou às sete e quinze. E pensamento e vontade, para onde foram? Minha (in) consciência sabia a resposta, mas ela queria vê-los em sua tão esperada liberdade. Eu também queria. Mas faltou-lhes meia hora, a que tantas vezes tiveram e deixaram escapar.